
Gosto sempre mais dos livros que leio se lhes encontro algum “factor de empatia”; o tema, o local que serve de cenário, o autor, etc... Estou absolutamente convencida que podes adorar ou detestar um livro dependendo do momento em que o lês. O “timing”, como em tudo na vida, é muito importante quando se lê um livro.
Nesta ultimas semanas li o Diário de Anne Frank. Acho estranho só agora o ter lido, talvez porque o associe a um livro típico da adolescência, mas ainda bem que assim foi.
Primeiro porque o leio depois de ter estado em Amesterdão o que permite reconhecer o enquadramento da acção. Curiosamente, quando lá estive, fiquei na casa de um amigo que vivia em Prinsengracht, muito perto do nº263 onde ainda hoje se preserva o esconderijo de Anne Frank.
Por outro lado creio que há uma segunda leitura “menos evidente” que possivelmente não teria apreciado há uns anos atrás.
O Diário não surpreende pela sua qualidade literária, apesar de ser bom para a idade da autora, mas sim pelo seu valor histórico-social. Além do evidente interesse como documento histórico da guerra, mostra as semelhanças entre as preocupações de uma adolescente dos anos 40 e as que tivemos nós próprios 50 anos mais tarde. Relata as tensões derivadas da convivência entre 8 pessoas fechadas numa casa (“Big Brother” diz-vos algo?) agravada pela tensão dos tempos de guerra e dá mostras de uma modernidade (de Anne) que a mim me surpreendeu.
Anne escrevia a 5 de Abril de 1944 sobre os seus sonhos de se tornar escritora:
“Além de um marido e filhos, necessito outra coisa a que dedicar-me. Não quero ter vivido em vão como a maioria das pessoas. Quero ser de utilidade e dar alegria aos que me rodeiam mesmo que não me conheçam. Quero continuar a viver depois de morta” (tradução minha a partir da edição espanhola).
Depois de 2 anos fechados na “casa de trás”, Anne e os outro 7 escondidos foram delatados e detidos a 4 de Agosto de 1944 quando as forças aliadas começavam a ganhar território aos nazis. Anne morreu em Março do ano seguinte poucas semanas antes do campo de concentração onde se encontrava ter sido liberado.
Mal sabia que os seus desejos se acabariam por cumprir, seguramente de uma forma distinta àquela que sonhava, mas com mais projecção do que a que possa ter ambicionado.
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